
É...o dia 30 passou...E comecei a sangrar de novo no dia 1º de junho. Eu não sentia dor nenhuma, era só o sangramento. Como tinha muito medo de dar qualquer coisa errada, resolvi ir à maternidade. O médico fez exame de toque e disse que estava com 3 cm de dilatação, que eu poderia optar em ir pra casa ou podia ficar. Preferir a última pra garantir. Era 19:00 quando foi dada entrada na internação. Minha mãe estava comigo, ficamos no pré-parto. Tinha uma moça sozinha, sofrendo tanto de cortar o coração. Ela andava pra lá e pra cá com o soro no braço, tomava banho toda hora, ia ao banheiro, chorava...Disse estar lá desde às 14:00 e, apesar do soro, não saía dos 3 ou 5 cm ( não me lembro exatamente) de dilatação. Às 22:00 o médico fez outro exame de toque em mim e já estava com 5 cm, comecei a sentir uma dor bem fraquinha vindo das costas pra frente da barriga. Eu havia me informado sobre o parto normal sem dor com médico do pré-natal, ele disse que fazia muitos no sistema particular; uma conhecida minha teve o primeiro filho assim e disse que foi tranquilo. Como eu havia assistido uma matéria na TV que o ministro tinha aprovado a anestesia na rede pública pra incentivar o parto normal, fui na infeliz sorte perguntar ao médico de plantão...Respondeu que essa lei ainda não estava aprovada, que se a mulher não sentir dor, não faz força, e pra contrariar ainda me mandou aplicarem a injeção pra 'dar dor'. Acho que pensou que meu parto ia demorar muito por eu não estar chorando de dor e resolveu aplicar o sadismo dele em mim também. Pra completar, lá veio a enfermeira com uma lata e uma mangueira dizendo que ele também tinha mandado me fazer a lavagem intestinal. Que coisa mais deprimente...Num hospital a gente nem é gente mais...Corri pro banheiro e nem deu tempo: me sujei, borrou tudo. Tive de tormar banho. A outra moça, o médico só foi decidir levá-la pra cesária já era mais de 00:00.
As dores começaram a vir fortes mesmo e era incrível doer tanto e não se saber onde...Minha mãe me ajudava na locomoção, mas permaneceu com uma feição de dureza, sem demonstrar compaixão. Ela trocou com minha irmã que, então com a barriga de 5 meses, manteve toda a calma diante do meu sofrimento. O médico e as enfermeiras se admiraram da coragem dela. Ela dizia que era bom que já ia vendo pelo que ia passar.
Lá pelas 02:00 eu já estava exausta e, entre uma contração e outra, eu tentava dormir. Achava que eu poderia cair no sono e acordar de manhã tudo normal. Minha irmã disse que era até engraçado porque eu chegava a roncar e de repente começava: 'Ai, ai, ai, ai...'Aí chegou uma hora que não dava nem pra cochilar, as dores já tavam quase uma por cima da outra e a enfermeira me mandava fazer força pra acelerar. Eu me espremia e ela toda estúpida começou a me dar tapa nas pernas, dizendo que eu tava fazendo errado, que a força que eu fazia era no pescoço. Mas eu era obrigada a saber que tipo de força se tem que fazer? Foi meu 1º parto, só assisti em novelas, e hoje vejo que as atrizes fazem tudo errado. Pra falar a verdade, eu nem vi ela me bater, foi minha irmã que contou depois e só não discutiu com ela, com medo de a expulsarem de lá.
Teve uma hora que a enfermeira me mandou ficar em pé e fazer força pra baixo. Eu não sou índia pra proceder assim. Bem que tentei, mas quando forcei, desceu um sangue estranho no chão que me deu medo e eu não tinha força pra ficar em pé, minhas pernas tremiam até deitada, eu não conseguia mantê-las erguidas. Minha irmã que segurava pro doutor fazer o exame de toque. Então ele veio com uma agulha pra estourar a bolsa. Não doeu nem fez barulho, ou a dor era tanta que nem percebi. Só me lembro de ele admirar que tinha pouco líquido.
Enfim veio uma outra enfermeira, mais paciente e me disse pra fazer uma força como se fosse fazer cocô. Aí sim comecei a fazer progresso...Já estava com 7 cm, mas as forças já estavam acabando. Eu desesperei falando que não conseguia. Ela ficava tentando me incentivar, dizendo pra eu não desistir e quando mais forte eu fosse, logo estaria com meu filhinho nos braços e aquilo tudo terminaria. Começou a olhar no meio das minhas pernas e dizer que já dava pra ver a cabecinha dele. Minha irmã achou engraçado ela ficar chamando pra ver e passar a mão nos cabelinhos dele quando ele apontava.
Quando cheguei nos 9 cm me disseram pra ir até a sala de parto: andando. Disseram que ajuda a acelerar mais. Imagina: andar com a criança com a cabeça quase saindo! Tenho certeza que foi por conta disso que estourou veinha nos dois olhinhos dele.
O médico ainda fez o corte lateral e me pediu pra fazer força só quando ele mandasse, mesmo que a dor viesse. Disse pra eu segurar os ferros que apóiam as coxas pra fazer a força pro nascimento. Facilitou um pouco. O difícil é passar a cabeça, na segunda força o resto do corpinho a gente tem a sensação como se fosse um monte de tripa. Ele chorou espontâneo. Minha irmã assistiu tudo da porta e se emocionou. Eu pensei que ia cair em prantos também porque quando via parto dos outros na TV as lágrimas rolavam, imagina o meu! Mas a dor tira toda comoção da gente que nem curtimos o momento, o que eu senti foi um alívio.
Só sei que enquanto ele me costurava, a enfermeira fazia toda aquela judiação de aspirar e pingar colírio. Deixou ele sozinho de cabeça pra baixo numa mesa chorando que até cansava. Ele parou de respirar uma hora e ela veio correndo chacoalhar ele e aspirar mais. E eu louca pra ver a carinha dele logo. A enfermeira me disse pra olhar o relógio atrás de mim, me contorci toda e confirmei: ele nasceu às 04:20. Coincidência, eu nasci às 16:20.
Permitiram minha irmã de entrar e me trouxeram ele. Nasceu tão limpinho, sem aquela prasta amarela que a gente vê nos outros bebês, só sujinho de sangue mesmo. Ela pôs ele pra pegar meu peito, mas ele só bobou, não tava nem aí, queria era olhar tudo em voltar com uns olhão pretinho abertos e assustados. Olhava minha irmã, a luz da sala, o médico numa rapidez!
Levaram ele de novo pro pediatra fazer os exames e a limpeza. Levam pra outra sala pra que a gente não veja os tais testes. Ouvi dizer que fingem deixar a criança cair dos braços pra ver se tem reflexo de tentar se agarrar, que fazem caminhar por instinto, que é pra saber se tem retardameto mental; mas deve ser traumatizante pra criança ser separada da mãe e passar por isso tudo sozinha logo nos primeiros instantes de vida...
O pediatra veio me dar os parabéns, que eu tive um bebê saudável. Perguntei o peso dele: 3.230 e 49 cm. Fui liberada com ele para o alojamento conjunto. Só sei que aquele pacotinho, que agora tava cheirosinho, era meu tão esperado filhinho...tava alí, nos meus braços...O presente de Deus...meu tesourinho.