No final de março de 2004, fomos passear na cidade que minha prima Patrícia foi morar e abriu uma escola Microlins. A cidade é pequena, mas ótima. Gostei muito. Lá tem praça com parquinho e o Gustavo brincou tanto que até sonhou com o cavalinho de brinquedo. Foi aniversário da cidade e teve festa com bolo pro povão (um povo tão educado! Ninguém avançava na barraca pra pegar um pedaço, pelo contrário, ficavam até sem jeito). Eu comi uns 3 pedaços (sem avançar também, é claro); aproveitei, tava até sobrando! Tinha balão de gás pras crianças, a fila tava quilométrica, mas valeu esperar: só de ver o brilhinho nos olhos dele. Teve show de graça...uma cidade tranqüila e de gente que tem dinheiro, sabe. É numa cidade dessa que gostaria de me mudar e abrir um escritório de engenharia...Nesse show à noite, minha prima Gal me deu uns conselhos de ir embora e ficar a família junto, porque se for pra passar fome, melhor que esteja todos juntos. Pra mim, só faltava um empurrão desses pra decidir e voltar. Morria de saudades do Anderson, o Gustavo também. Não dá pra ficar tanto tempo longe. Mas não tinha dinheiro. Tive que esperar, pois minha irmã também resolveu voltar e morar junto com o Marcos por pressão de toda família, e meu pai ia levar depois do casamento da minha prima Lu, o qual eu ia ser madrinha.
De volta à São Paulo, pedi meu pai pra levar a gente no parque da Água Branca num domingo. O Gustavo correu tanto por lá, dava gosto de ver. Nem fome sentiu, se não fosse a gente sentar e eu dar a mamadeira, nem ia pedir! Mamou rapidinho pra poder brincar de novo.
Outro dia fomos convidados pra almoçar na casa da minha tia Silene e teve até omelete de ovo de avestruz. Nunca imaginei que ia comer isso na minha vida, mas não teve surpresa não: tem o mesmo gosto do de galinha, com a diferença que rendeu 11 frigideira de omelete, teve que quebrar a casca com machadinha e custar conseguir furar a gema de tão firme. Minha irmã quis assistir o filminho caseiro de míseros 9 minutos (por incopetência de um amigo do Marcos) da festa de aniversário do Vinícius e a última cena que aparece foi a do Anderson com o Gustavo no colo. Foi muito rápido e já acaba. O Gustavo viu e ficou desesperado, querendo chorar: 'O papai, televisão...' Eu não podia ficar mais lá, a esperança de emprego já tinha acabado e o dinheiro também e ainda pra ficar sofrendo à toa com a distância já era demais.
Ainda, meus pais amam os netos, disso não tenho dúvidas; mas a convivência não é fácil. O certo mesmo é nos finais de semana, como visita e pronto, morar junto não dá certo. Qualquer coisinha incomodava, desde de choros e birrinhas comuns a detalhisinhos sem importância. Outro dia meu pai foi fritar peixe e teimou em deixar prato em cima da mesa, Os meninos mexeram e ele já xingou. Coloquei o prato na outra boca do fogão que ficava até mais fácil pra ele, mas não, tinha que ficar na mesa. A criança de 1 ano e pouco tem que entender o que pode ou não mexer. A gente ensina, mas não é fácil ver os resultados como eles querem. Eu prefiria tirar do alcance. Só sei que bati boca com ele que aquilo era frescura (em querer manter o prato na mesa), quase me bateu por dizer essa palavra dele. E eu chorava demais nessa época, descia pro quarto e danava a chorar. Era tanta cobrança, tanto estress que eu acabei até fazendo coisa que não devia. Teve um dia que de tanto falarem no meu ouvido, me deixaram tão louca que, sem pensar, dei uma chinelada na perninha do Gustavo por conta de uma travessura que ele até tremeu e á noite foi parar no pronto-socorro com febre. Fiquei com tanto remorço que eu queria sumir do mundo. Uma outra tia me disse uma vez que nunca bateu na filha dela por conta de falação dos outros, que rachassem o bico de falar, ela não descontava na menina. Passei a fazer isso. Daí toda vez que me acontecia qualquer coisa desse tipo, eu pegava ele e descia pro quarto pra chorar, de raiva, de arrependimento, de dor...Por mais que eu escondesse do Gu, ele perguntava: 'Mãe, cê ta chorando?' E punha a mãozinha no meu ombro: 'Chora não mãe.' Me comovo só de lembrar...
A Lu casou em Maio, caligrafei os convites pra ela e quis dar de presente, mas ela não aceitou. Me pagou o serviço e disse que me queria de madrinha por consideração. Comprei uma roupinha social pro Gu ir ao casamento. Foi ainda uma novela em cima da hora eu ser ou não ser a madrinha, porque não tinha vestido. Até uma outra prima me emprestar o dela e tava eu lá no altar com eles como sempre havíamos imaginado desde a infãncia e a adolescência; e se desmanchar em lágrimas quando ela veio cumprimentar. É engraçado isso de chorar em casamentos, uma coisa tão bonita e feliz e uma choradeira de despedida...E fui eu quem puxou o cordão, ela: 'Num chora Rô, num chora Rô' e as lágrimas brotando também. Dalí pra frente tava o irmão e os pais, aí que desmanchou todo mundo mesmo.A festa também foi muito boa, dancei pra caramba, mas quase que minha noite termina em desastre. Fiquei tranqüila pelo salão estar de protas fechadas que nem percebi quando tinham aberto pras pessoas irem embora e meu filhinho sumiu. Eu olhava o lugar como uma louca, sem rumo, quase chorando e gritando. Perguntava todo mundo, não sabia se mandava o DJ anunciar, se contava pra minha prima. O coração parecia que ia sair pela boca. Saí lá fora e olhava pro lado do estacionamento que eu nem sei onde ficava, só imaginando que alguém poderia ter levado ele em algum carro. Até que um convidado viu o desespero na minha cara e perguntou se eu tava procurando um menininho assim e assim. Me apontou os fundos do salão. Fui até tremendo e ele tava sentadinho atrás de uma mesa (com aquelas toalhonas que cobrem tudo), brincando com uma peruca colorida que achou no chão. Me agachei devagar conversando com ele que ficou me mostrando o negócio e nem tive ação. Só após uns segundos fui capaz de pegar ele no colo e comunicar minha mãe que chorou, eu nem consegui chorar de tão atônica que fiquei. Só sabia agradecer à Deus por estar com meu tesourinho nos braços.