Um bichinho de estimação
Meus pais vieram no fim do ano. Dois dias antes de irem embora, meu pai me aparece com um galo de uma roça e solta no quintal. Gustavo queria dar arroz e milho de pipoca o dia inteiro pro bicho. A vida dele era o galo. Ficava vigiando e vinha relatar tudo o que o bicho fazia numa empolgação...E minha mãe dava corda...chamava ele pra dar água pro galo, dar arroz, arrumando as vasilhinhas, o puleiro pra ele dormir...
Aí chegou o dia de irem...e levar o tal galo. Gustavo já tinha ficado triste por conta de que o Anderson enfiou na cabecinha dele que íamos morar em SP (por conta da briga que tive com o traste que minha irmã arrumou), que ele ia visitar a gente lá e tals e minha mãe veio explicando os motivos porquê não dava pra irmos pra lá; Gustavo, quando pensávamos que não, tava prestando atenção e entendeu tudo, indo chorar na cama porque ele gosta de SP e tava todo empolgado com a idéia de ir pra lá.
Pois é, o Vinícius tava viajando com a mãe dele e os avós foram embora, não levaram ele e ainda levaram o tal do galo...o menino perdeu o sentido da vida. Na mesma hora que foram, o Anderson sugeriu então de comprarmos um pintinho pra ele. Dei o nome de Zequinha, já que o Gu não tem muita imaginação pra por nomes. E custou aprender! Chamava o bicho de Zezinho ou vinham me perguntando: ‘Como é mesmo o nome do meu pintinho?’ Agora tô eu tratando e limpando gaiola de bicho. Coisa que tô detestando e morrendo de nojo de fazer.
No início, deixei que soltasse o bichinho pela casa, que ficava correndo atrás da gente aonde íamos. Na cozinha, era um alarme pra não pisar nele, que tinha a cor do chão. Às vezes escapava um chute que mandava o pobrezinho longe...Chegava a dormir no pé da gente. Se bobeasse subia até no colo! O Gustavo fez a festa: jogava o bichinho pra cima pra ver voar, saía correndo e o danadinho chega derrapava e se tropeçava todo pra acompanhar o menino, se escondia só pra ver o talzinho piar desesperado à procura dele...essas coisas de moleque. Mas limpava a sujeira que o bicho fazia, direitinho. E assistia desenho com ele no colo, virou o companheirinho dele.
Na primeira noite, dormiu no quarto com a gente, mas não parava de piar. Queria alguma coisa pra se esconder debaixo. Tive a idéia de improvisar uma mãe pra ele. Arrumei um trapo de toalha e coloquei por cima dele na gaiola, aí dormiu. Depois foi ficando por cima do trapo e sujando tudo o pano que parei de colocar e fiz logo um puleiro lá dentro . Na segunda noite pus ele pra dormir no outro quarto que tem aqui e é mais escuro.
Agora já tá um franguinho. Adolescente com direito a espinha e tudo. Tá crescendo um caroço debaixo do olho do bicho que sei lá o que é aquilo. Daqui a pouco vira outra cabeça de tão grande que tá ficando. O tamanho e quantidade da sujeira tá aumentando proporcionalmente e o cheiro tá de lascar. Por isso, agora só fica na gaiola e passa o dia no quintal. À noite ainda guardo dentro de casa por conta dos gatos que tem por aqui e já acabaram com uma família inteira de canarinho que meu pai tinha. Não é á toa que a gente não gosta de gato aqui...
Olha, eu tô pra ver bicho mais esganado que galinha. Tão com o papo cheio, quase pra estourar e querendo mais. Eu tenho que subir o pote na grade pra colocar o farelo senão ele enfia o cabeção na frente. E ali fica num desespero bicando tudo e tentando enfiar a cabeça pra alcançar. Quando abaixo, o bicho engole numa gulodice que dá até um troço na gente de olhar. Eu heim! Pior que cachorro.
Logo vou ver um canto pra ele no quintal de vez, mas ando tão desanimada de pensar em cuidar dessa bostaiada toda que queria dar um fim. Imagina ter um frango no quintal até morrer de velho! Gustavo tinha concordado em dar o bicho pro vovô quando tivesse grande, mas o Anderson tem dó e já tirou o menino de cabeça. Vou fazer os dois limpar agora. Chega!
P.S.: O coelho foi só pra lembrar que agora ele não pára de pedir um...socorro!!! Se dependesse dele tínhamos um zoológico aqui em casa!