Cobiça de emprego
Um pouco antes eu já havia passado uma semana turbulenta no trabalho com idas ao pronto-socorro, chegadas atrasadas com saídas adiantadas por ter comido um pão-de-forma de fabricação do supermercado daqui, que ia vencer dali uma semana, mas no outro dia após aberto, já tava todo embolorado. Não deu outra, passei mal na praça na hora do almoço, tendo que sair correndo até o banheiro público sem papel, onde pensei que fosse desmaiar de tanta fraqueza. Não consegui trabalhar e tive que tomar soro no pronto-socorro durante duas horas. Ainda bem que o Gustavo não quis comer, eu cheguei a dar uma fatia pra ele, que só deu uma mordida e largou. Aquilo podia matar uma criança.
Eu fui à vigilância sanitária, procurei um advogado e até no juizado de pequenas causas pra processar esse mercado. Cidade que tá crescendo, mas ainda vive na lei do arraial, já viu né: todo mundo conhece todo mundo...e o juiz chamou o gerente do mercado pra um acordo e já vi o tratamento camarada um com o outro..., que falei que ia pensar e no outro dia resolvi ir no mercado onde ele me devolveu o valor do produto em mercadoria e me deu R$50,00 pra comprar remédio e pagar o dia de trabalho que perdi. Durante umas 3 semanas iniciei uma terapia no postinho (eu tava a ponto de ter um surto), decidi parar porque já vi o descontentamento da patroa, por ser no horário do trabalho, mesmo que uma vez por semana.
E depois disso tudo e da internação do Gu, no belo dia 8 de março, a patroa me disse pra esperar depois do expediente que precisava conversar comigo. Achei mesmo que seria a respeito das faltas, apesar de eu ter levado atestado médico sempre... Mas aí disse que não podia ter alguém faltando assim, que não tava dando conta de manter 3 no caixa e tava me mandando embora. Eu aceitei, no fundo foi um alívio, mas também não ia adiantar eu chorar. Ainda acreditei um pouquinho nessa história dela de não poder pagar 3 no caixa, achando que ela fosse colocar o filho dela que há um tempo ela vinha treinando lá, mesmo ouvindo dias antes a filha dela cochichar com a tia que a Cris já tinha pedido as contas no emprego que tava (Sim, ela havia encontrado outro emprego...). E no outro dia a patroa me ligou pedindo pra levar a carteira pra dar baixa e 'quem' eu vejo sentada na cadeira em que eu trabalhava? Exatamente a 'cunhada amiga da onça'.
Ela me deu o emprego com uma mão e tirou com a outra. Pra vocês verem como é a falta de amor, egoísmo e ganância: ela sabendo que o irmão dela desempregado e estudando, com o único sobrinho que só eu sustentava, foi capaz de combinar tudo pelas costas com a patroa e pedir demissão do emprego pra tirar o meu porque ela gosta de trabalhar só ali. Pra ela e a mãe o mundinho só gira em torno do próprio umbigo. Mas o mundo em que eu vivo dá voltas e a vida dá o troco. Acredito muito nisso. Tenho certeza que tudo aquilo que vinha acontecendo comigo lá e na saúde do meu filho foi por cobiça desse emprego.
Quanto à patroa, eu fiquei com tanta raiva dela ter mentido que não podia pagar 3, sendo que já tava tudo combinado com a outra, que fui no contador (que é primo dela) e comecei a descer a lenha com o funcionário que foi cunhado da minha irmã, que ela foi muito infantil em mentir daquele jeito, que não sou nenhuma menininha pra ser tratada assim e ela uma mulher madura não devia se prestar a esse papel. E o primo ouvindo tudo lá do fundo. O funcionário me disse que, na realidade ela não precisava justificar a demissão; concordei que se ela procedesse assim, ficaria muito mais bonito da parte dela. Falei mesmo e hoje não olho na cara de ninguém de lá, não tenho estômago pra isso.
Com o dinheiro do acerto consegui comprar enfim meu instrumento de trabalho em minha verdadeira profissão: meu computador, que hoje vos fala. Que no início não fui muito feliz, pois com uma semana, já tinha queimado a fonte. E queimou mais uma vez, que deu problema no modem, na configuração do hardware, e esqueceram de instalar o AutoCad... e só era eu com essa CPU debaixo do braço à pé até a assistência da garantia. Há pouco descobrimos que a porcaria era o estabilizador. Foi trocar e até agora está tudo bem, a não ser a lentidão por causa da memória. As coisas não têm sido fáceis pra mim, viu. E os anos vão passando...