Em outubro, a filha da prima do meu pai que namora meu vizinho, veio me dizer que a tios dela tinham aberto um mercado no bairro pra cima daqui de casa e precisavam de mais alguém no caixa. Fui lá conversar e comecei a trabalhar do meio-dia às 20:00, recebendo um pouquinho mais de 1 salário da época. O Anderson vinha buscar o Gustavo e á noite trazia ele pra casa.
O salário não rendia quase nada, pois às vezes mais da metade ficava em mercadorias lá mesmo. No início foi uma empolgação, afinal tava entrando um dinheirinho e eu distraindo a cabeça. Até que um dia uma ex-colega de faculdade apareceu por lá. Foi contratada pra fazer a planta de combate á incêndio exigida para comércios. Cobrou R$300,00 e o patrão pagou todo satisfeito. Foi me dando um aperto no peito em ver que eu podia estar realizando aquele trabalho e, como ela, ganhar em 1 semana o que eu iria ganhar em um mês...
O pior é que ir sentindo na pele o que meu pai sempre reclamou desta cidade: a maioria do povo daqui pega os parentes pra trabalhar e além de monopolizar a mão-de-obra, explorar também, porque sabem que ninguém vai ter coragem de reclamar. O combinado foi pagamento todo dia 5 e vales dia 20. O 1º mês foi assim, aí foi só avacalhando: não teve mais vale e o pagamento começou a atrasar. Quando era feito, o dinheiro era entregue com a mão até tremendo de dó. Um dia, precisei de um vale de R$20,00 pra pagar uma conta, me estendeu o dinheiro do caixa com uma cara tão feia que parecia até que eu tinha pedido um rim pra ele. Ah, e era ele quem fechava os caixas! Acho que tinha medo de vermos quanto faturavam no dia.
Quase toda semana tinha 'reunião de cobrança'. Era pra ajudar a empresa, tratar os clientes com isso e aquilo, sem brincadeiras com colegas e tudo mais. Ele perguntava se alguém tinha algo a dizer no final. Um dia combinamos de reclamar sobre os pagamentos e pedi o apoio de todos se me pronunciasse em nome da turma. Todos aderiram. Comecei a dizer que faziámos nossas contas pessoais segundo as datas combinadas pra receber e isso não estava acontecendo. Todo mundo ficou de cabeça baixa e levei o ferro sozinha. Ele me disse que tava me ajudando, pois recebeu a notícia que eu tava precisando trabalhar porque tinha um filho, que nunca descontou uma hora em que eu chegava atrasada e que tava cheio de currículos de gente querendo trabalhar lá e quem não estivesse satisfeito que falasse. No outro dia me chamou pra fazer o pagamento só á mim, pois achou que eu tinha dito isso de forma particular, que quis dar uma indireta que precisava de dinheiro.
Só sei que aqui o povo tem folgado demais com essa história de farta mão-de-obra disponível, acham que estão nos fazendo um favor em dar um trabalho e temos de ser imensamente gratos por isso aguentando qualquer tipo de exploração dos direitos trabalhistas. E por falar nisso, trabalhei lá por 5 meses e nunca fui registrada, apesar das promessas. Acho uma graça ele ter me jogado na cara que nunca havia me descontado hora...também nunca pagou uma hora extra sequer nem a folga semanal a que temos direito.
Pior era ter que aguentar, além dos carrapatos no Gustavo (que me davam um nojo, saber que estavam chupando o sangue daqueles cachorros imundos e passando pra corrente sanguínea do meu filhinho), foi um dia o pobrezinho chegar com o dedinho médio todo inchado e rasgado de deixarem ele correr, tropeçar e cair uma taipa em cima da mãozinha dele. Eu xinguei tanto o Anderson, principalmente porque eu pedi minha irmã levá-lo no pronto-socorro e tiveram que arrancar a unha fora porque ia cair. Me deu tanta dó. Ainda bem que nasceu outra saudável, porque minha avó tem uma que nasceu toda torta. Tadinho, ela disse que ele chorou tanto...e eu sem poder estar por perto porque tive que ir trabalhar. E eu tava cheia, de além de não poder cuidar do meu menino, viver em função daquele mercado. Só tinha oportunidade de lavar roupa e arrumar meu quarto nos sábados à noite ou domingos à tarde. Vivia cansada e com sono. Não sei como tem gente que consegue passar a vida trabalhando nisso.
2 Comments:
Oi Ro, no seu outro post, tentei comentar e não consegui, aki é o mesmo esquema pra serviço, eles acham q é favor, meu marido já trabalhou em mercado logo q viemos pra cá, e odiou...era td isso q vc comentou, agora imagina um pai de familia, pagando aluguel, ganhar 1 sálario, e ainda atrasado, parece q cidade pqna é td igual né, eu tive um comércio e o fechei, por deixar os meninos sozinhos, a ponto do Nycolas ficar internado!!!Resolvi fechar a locadora de video game q eu tinha, foi ai tbm qdo descobri q tava grávida do Kel, aí não ia dar certo mesmo, como eu ia deixar 3 sozinhos e ainda 1 bem bbzinho, mas Deus sabe de todas as coisas, não há $$$ q pague a saúde de nossos filhos, ahhh o Lyncoln já sofreu mto c carrapatos tbm, era todo marcado, parecia pereba, fiz uma super tratamento nele, isso foi uma época q ele morou c minha mãe, hj em dia não tem nada disso!!Mora comigo, né...rsrs.bjo amiga, sua amizade me faz bem!
Ro, suas histórias são lindas, vc é linda (finalmente uma foto né) e seu Gu quando pequeno era lindo, quero ver agora...hihihih.... Você é uma gerreira, passa por tudo e ainda tem toda essa coragem, isso mesmo, bola pra frente!
A sua sogra é quase igual a minha, a única coisa é que trabalha fora, mas parece que estava falando da casa dela, incrível... abafa o caso...rs
Não vejo a hora de vc chegar nas histórias recentes e por fotos do Gu, consegue algumas aí pra gente vai...
Beijos, obrigada por todo carinho viu, ainda vou conseguir retribuir como vc merece.
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