***s2***Meus foguetinhos***s2***

Tenho por objetivo,além de registrar doces lembranças,dividir experiências e compartilhar alegrias com mamães corujas como eu.

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Fiz um teste uma vez que me definiu como mãe superprotetora que vê perigo em tudo e que gosta de cuidar de perto. Sou a mãe mais orgulhosa deste mundo! Tenho 32 anos, sou Engenheira civil, profissão que amo de paixão. Não sou dona de casa por mais que tente...mas sou mãe de dois molequinhos que dão um trabalhão porém compensam de tanto orgulho e alegrias.

sábado, agosto 04, 2007

A cirurgia – Parte II

Durou os 40 minutos mais angustiantes da minha vida. O tempo todo fazendo oração, porque não somos nada neste mundo a ponto achar que nada vai acontecer conosco, que as coisas só acontecem na casa do vizinho. E que qualquer ato cirúrgico envolve riscos.
O médico me chamou, perguntando se eu queria ver o que ele retirou do Gustavo. Pensei por um segundo em nada e aceitei. Abriu uma gaze com uns pedacinhos de carne sangrada, um menor que ele disse ser a adenóide e outros dois do tamanho e parecidos com testículos de porco (sei porque meu pai já castrou muitos aqui em casa. A comparação é horrível, mas é verdade e o que me lembrou na hora) que eram as amídalas. Achei grande pro tamanhozinho da garganta dele. Comentei um 'por isso que ele não tava respirando' e ele me disse que já ia liberar o Gustavo assim que ele acordasse.
Antes eles levavam pro quarto ainda dormindo pra acordar naturalmente, mas minha tia disse que agora eles acordavam na sala mesmo e à tapas na cara. Não sei como foi, mas a enfermeira abriu a porta dizendo que só tava esperando subirem com a guia e me mandou ouvir o choro dele, que já tava acordado. Aí chegou umas duas vezes com ele no colo e quando ele me viu, chorou mais ainda e ela voltava com ele pra trás por causa da maldita guia!
Tem horas que me dá tanta raiva de ser uma mãe que sente muito, mas faz pouco. Tipo assim: tem aquelas que ficam cercando a criança a cada passo e a qualquer ameaça, já tão elas agarrando antes de irem pro chão. Aquele senso de urgência. Eu não, quando me dou conta da cena, já capotou e tá chorando. Minha prima Lu, que é psicóloga, disse que a carga de adrenalina no meu cérebro deve ser tão alta que me anestesia. Aí fico sem ação, não porque eu quero.
Mas eu queria ser daquelas mães que viram uma leoa pra defender a cria, sabe. Porque eu não entrei arrombando tudo e pegando meu filhinho nos braços? Na terceira vez, a tal guia chegou e ela resolveu me entregá-lo. Tadinho, ele cansado já de chorar, me perguntou choramigando: 'Mãe, isso vai acabar?' Foi de cortar ainda mais meu coração...Respondi que já tinha acabado e ele desesperado: 'Eu não tô conseguindo falar!' Mandei ele ficar quietinho, que ele tava comigo agora e eu ia ficar com ele.
Ele não vomitou, mas cuspiu muito sangue junto com saliva. Aí ele ficou geladinho, tremendo. O termômetro marcou 35°. Pedi cobertor não sei quantas vezes, até me dizerem que não tinha. Outra ocasião de eu virar uma leoa e fiquei atônica: eu tava pagando afinal! Na portaria, assinei um documento prometendo zelar pela TV e telefone do quarto, que nunca vi: me mandaram pra ala do SUS junto com uma criança que tava internada com bronco-pneumonia e meu filho recém-operado. Depois não sabem de onde vem as infecções hospitalares! Com certeza cobraram a diária de mim e iam cobrar do SUS também. O pior é que a mãe desse menininho que me emprestou o ededrom dele pra cobrir o Gustavo. Passei miudinho com medo dele se contaminar com a doença do outro até minha irmã poder trazer depois do almoço o dele. Depois que minha mãe veio dizer que dava frio mesmo quando passa o efeito da anestesia...Por mais que a gente tenta se informar pra prevenir, não é o bastante.
Quando minha irmã veio, ainda tive que sair falando com meia dúzia de gente na cozinha pra me arranjarem uma mamadeira de leite frio porque tinha vindo no copo e ele não conseguia tomar. Mesmo com a mamadeira ele não quis. Às 16:00 o médico passou no quarto e deu alta. Em casa ele não quis saber de cama não. Ficou atrás do Vinícius; sem conversar, nem a saliva engolia, pediu o paninho e ficava cuspindo nele. Só empurrou meia pêra pra dentro porque insisti muito. Aí tudo o que eu comprei, foi mais eu e o Vi quem comeu. Foram 10 dias se alimentando mais ou menos e conversando com uma voizinha fininha, que eu fiquei com medo de ficar daquele jeito. Eu falava que parecia aquele comercial do Nhenhenhem.
Depois da recuperação, a voizinha continuou por mais um tempo, mas o apetite...Bem que uma senhora no ônibus de São Paulo pra cá me disse que eu ia ver outro filho. O menino perguntava toda hora: 'Mãe, o que eu vou comer?' E os roncos? Na mesma noite, foi um silêncio tão grande que eu acordava e punha a mão nele pra ver se tava respirando.
Com um mês o médico pediu retorno e como eu tinha consultado sem marcar, achei que podia fazer o mesmo. A secretária pediu pra marcar pro outro dia, mas eu fiquei com tanto desânimo em me arrumar e ao Gustavo tudo de novo e aí voltar à pé outra vez...que armei um barraco, que eu esperava até o final, que eu tava de viagem pronta pra São Paulo com proposta de emprego (ai que sonho...), que o meu oftalmo me recebe nem se for por 2 minutos qualquer hora que eu for lá, e chorei as mágoas...e fiquei lá firme e forte. O Gustavo se arrastando pelo chão, subindo pelas janelas, espalhando revistas pela sala toda...Até que a garota viu que eu não ia desistir mesmo e foi lá com cara de 'que saco' falar com o médico pela décima vez.
Entrei pedindo mil desculpas e ele justificando que havia faltado uma pessoa. (Ah, vai, não tava tão lotado assim...o do oftalmo fica duas vezes com mais pessoas). Olhou a cicatrização, confirmou que estava tudo bem, receitou uma vitaminazinha e se despediu. Custava? Foi realmente 2 minutos. E eu precisei fazer todo aquele escarcéu. Bom, dessa vez eu reagi, né?