Fiquei buscando na Internet tudo o que podia sobre o assunto. O Anderson ficou me xingando que era culpa minha, que era genético da minha família. Aí li que não tem nada a ver com genética. Acontece que depois de a pessoa sofrer alguma infecção forte no sistema respiratório, principalmente criança em fase de crescimento, a reação de defesa do organismo é fazer com que as amídalas e esse tecido adenoideano aumente de tamanho pra proteger o interior do organismo. Quando crescem além de certo grau, pode não voltar ao tamanho original se dando o contrário: passam a provocar as infecções por acúmulo de bactérias. Lembra que isso começou depois que ele esteve internado com 'bronco-pneumonia'. Os médicos se dividem nas opiniões no caso de se adotar a cirurgia. Uns não aprovam, pois o organismo passará a não ter essa defesa primária que seria importante. Outros já opinam que o organismo possui mais defesas e além de provocar as muitas infecções, isso pode deformar os ossos da face que passam a não se desenvolver da forma correta devido à respiração oral.
Apesar de se tratar de uma cirurgia simples, a pessoa tem alta no mesmo dia, mas mãe já viu. O pior é que eu queria detalhes e não achava nada. Só que o principal risco era a anestesia, citava a intravenosa e a gasosa, mas não mencionava do que era e como agia no organismo. Relatou um insignificante número de hemorragia pós-operatório, que só de ter ocorrido em alguém, já não acho insignificante assim.
Minha mãe, que passou por isso com meu irmão e também ela mesma já operou as amídalas, me preveniu que dava vômito depois que acordava da anestesia, que ficava uns dois dias meio enjoadinho e mole. Minha tia, que já passou por uma cirurgia na coluna, me contou que acordou durante a anestesia e que sentiu os médicos mexendo nela e não conseguia dizer pra ninguém que tava acordada, até forçar dormir de novo. Já fiquei com aquilo na cabeça, e uma criança de 4 anos se passar por isso? Se a anestesia não for suficiente pra mantê-lo dormindo até o final? E a tal anestesia? Eram mil perguntas que pairavam sobre minha cabeça enquanto a tranqüilidade do médico me confortava e apavorava ao mesmo tempo. Ele só respondia e por alto o que eu perguntava e já sabia a resposta de consultar a internet.
Na véspera fui ao supermercado e comprei muitos potes de papinhas, achocolatados, leites fermentados, gelatinas, sorvete, frutas, tudo de mais fácil pra ele se alimentar depois. Tinha que ser tudo líquido ou pastoso e gelado pra ajudar na cicatrização. Fiz o Anderson pedir o dinheiro pro irmão dele. Minha família já tava pagando tudo ora essa! Por um milagre, a mãe dele deu R$30,00 pra comprar os remédios depois da cirurgia. Existe um coração de vó neste momento, debaixo de tanto egocentrismo...
E fui eu, apavorada que só, no dia 5 de outubro de 2006, levá-lo a Santa-Casa. O Anderson xingando que eu tava correndo pra chegar cedo, mas eu detesto atraso e assim ele foi o primeiro. Tinha mais duas crianças pra operar adenóide também. E nessa minha luta que vi o quanto é comum em muita criança e o quanto as mães sofrem atrás de alívio.
Ainda tivemos de esperar o atraso de 2 horas do anestesiologista. Nos meteram num corredorzinho apertado com os vestiários dos funcionários pra botar aquela camisolinha no Gustavo. Ainda pedi pra falar com o anestesiologista pra mostrar os exames pré-operatório pra ele, me atendeu no corredorzinho mesmo e olhou os exames por cima quase se rindo a minha aflição (com tão pouco: na opinião deles) e eu perguntando que tipo de anestesia ele ia aplicar (como se fizesse alguma diferença, sendo que eu não sabia afinal o que era cada uma).
O Anderson que trocou ele no vestiário masculino e ficaram sentados num banco lá dentro. Eu fiquei na porta, olhando pra ele tão alegrinho, brincando todo inocente e aparentemente saudável sem saber pelo que ia passar...Me deu um remorso, uma tristeza tão grande, um medo tão grande...Eu me odeio por isso e acho que deveria passar por uma terapia, mas eu sou muito pessimista, em toda ocasião eu só sei imaginar o pior.
A enfermeira veio pegá-lo e ele se recusou a ir. Eu conversei e ele continuou arredio. Tentei pegá-lo à força do colo do pai dele e entregar logo pra enfermeira. O Anderson me deu um grito: Calma! Segurando o Gustavo com força e quase me jogando longe. E conversou com o Gustavo até que ele aceitou ir numa boa. Imagina se eu désse pra enfermeira à força e ele saísse chorando dando os bracinhos pra gente, o trauma que esse menino não ia ficar...Sei lá o que me deu, eu não conseguia nem chorar pra pôr pra fora aquilo tudo pelo menos. Ainda bem que o Anderson, a muito contra gosto (pois era contra a cirurgia: não suporta a idéia de doenças e hospitais), estava lá e com os pés no chão pra impedir de eu fazer essa maldade, sem pensar e sem querer.
2 Comments:
Oi!! Rosangela ,fiquei muito emoscionada,com a historia do seu filho, pois eu estou nesse momento ,passando por uma fase muito dificio e gostaria que vc ,me ajudase ,pois eu tenho um filho e vc saber como e dificil tomar essa decisão de operar um filho ,meu filho tem 5 aninhos ,e tem que operar adenoide, pois tenho os mesmo medo que vc teve, me ajude se puder.um abraço!!!! FIque com DEUS! meu email-- mgedudu@hotmail.com
Aguardo resposta ! um Abraço
Postar um comentário
<< Home